domingo, 18 de outubro de 2009

Chuva no telhado


Sempre que chove, sinto uma nostalgia. Talvez porque o barulho da chuva no telhado seja relaxante e porque o único dia em que estou em casa para ouvir o barulho da chuva no telhado, seja aos domingos.

A memória é possivelmente uma das maiores capacidades do homem. Imagine se não tivéssemos memória. Naturalmente que não nos lembraríamos de fatos amargos, dolorosos, de cenas que gostaríamos de nunca termos vivenciado, mas também não nos lembraríamos de grande parte da nossa vida recheada de momentos muito bons e muitos, que só em recordarmos nos enche os olhos de lágrimas.

Se a memória fosse seletiva, ainda assim não seria vantajoso, porque alguns fatos percebidos como dolorosos, rempos depois são percebidos como aprendizado, e passam a ter um novo sentido e tudo isso só é possível porque temos como nos lembrarmos do passado.

Interessante é quando conseguimos distorcer as nossas lembranças e até mesmo anulamos aquilo que não nos interessa.

Algumas lembranças transformam-se em cenas que nada deixam a desejar para uma boa sequência de frames num filme concorrendo ao Oscar. A cada vez que as cenas são reprisadas em nada se altera a ordem dos fatos, e até ocorre um esforço por lembrar algo mais, mas nada mais é acrescentado e assim fica a cena perpetuada. Muitas delas tornam-se tão marcantes e trágicas que valem umas boas sessões de terapia e outras tantas são relembradas constantemente pelo prazer que nos causam. Mais parece que as vivenciamos a cada vez que são lembradas.

E aqueles momentos que parecem não ter importância alguma aos olhos de outras pessoas, mas que para nós é uma lembrança impar?

Quando chove e me vem essa nostalgia, viajo até a minha infância, e revejo mais um domingo com a minha familia. Pais, avós, tios, primos, todos reunidos na casa dos meus avós, almoçando, num dia quente, úmido, o barulho da chuva, vozes em tom mais alto que o normal, gargalhadas, primos correndo em torno da mesa, o tilintar de talheres, o brinde...sempre o brinde entusiasmado, e finalmente o corre - corre para os carros, para chegar em casa e dormir a "sesta"...ainda ao som da chuva e agora, no telhado.

Tenho saudades desses momentos. Tenho saudades da vida despreocupada, desse período em que tudo era brincadeira, alegria.

Como é bom poder lembrar de tudo isso. Como é bom ter tudo isso pra lembrar.

A chuva continua caindo. Vou dormir a "sesta" ao som do tamborilar da água no telhado.